quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Crônica de mais um amor frustrado

"A beleza de um corpo nu só a sentem as raças vestidas. O pudor vale sobretudo para a sensibilidade como o obstáculo para a energia." Fernando Pessoa.

E então, num ato quase que de desespero, em meio a um turbilhão de dúvidas e incertezas, tomada pela sua mais assustadora insegurança ela disse, por mensagem, ao causador de tanta angústia:

Estou desistindo de você!

As palavras que soavam como um fim desastroso e frustrante, eram na verdade um pedido de socorro.

Estou desistindo de você... Assim mesmo no gerúndio como algo constante e previsível desde o começo.

As pessoas desistem das outras. Só Amar é persistir!

Mas ao desistir,  lenta e gradativamente de alguém,  não se deixa de gostar como em um passe de mágica. Como parte desse espetáculo de horrores o amor, que antes era expectativa e entusiasmo vai se transformando  em mesmice e melancolia.

Ela buscava paz, não esse marasmo sentimental que movimentava uma via de mão única onde ela só se doava sem ter retribuída a sua dedicação e cuidados.

Vivia um conto de fadas louco onde o príncipe encantado se tornara um sapo gordo e exigente que na cabeça dela, agora tão claramente, só a procurava quando precisava de platéia.

Mas, ainda assim... Ela o queria!

Sua personalidade movida por desafios e a complexidade do objeto de seu desejo a instigavam a insistir.

Ela havia marcado aquela alma, como sua, desde a primeira vez que seus olhos se cruzaram.

O olhou como quem olha um vestido lindo na vitrine e o imagina vestida nele.

Assim, ela imaginou aquele homem. Vestida nele!

Era um homem de marca, de grife famosa desejado por várias mulheres mas, só as belas e de classe o ostentavam em público. Ela queria tornar aquela marca exclusiva. Só sua...

Agora, no entanto, desistia dele como quem desiste de um jeans velho e surrado antes que o mesmo se rasgasse em público causando-lhe constrangimento, lhe despindo de suas ilusões mais sinceras.

Ela só queria ser amada e vestida por esse homem que por hora estava voltando para vitrine de onde ela nunca devia tê-lo tirado.

Não me vestiu bem... As costuras parecem frágeis... O preço é caro demais...

Estou desistindo de você